sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Da imprevisibilidade de viver...

... Havia premeditado tudo... arrumaria a casa, deixaria a geladeira abastecida e alguns livros para o próximo final de semana já separados para ler na varanda. Assim deixou a casa da praia e voltou à cidade para a rotina semanal. Tudo certo, tudo pensado e programado com perfeita exatidão!
Mas... de repente uma dor súbita, a corrida para o hospital e o início de uma bateria de exames e consultas e em seguida a internação! Seis meses depois o óbito. Não voltou à casa da praia!
Aos familiares condoídos pela perda e saudade cabe os trâmites mais urgentes e em seguida decidir o que fazer com os pertences e bens... missão difícil, porém necessária e durante a qual se revelam tantos detalhes de uma vida, que mesmo sendo partilhada, guarda surpresas sobre as emoções, ideias, sentimentos, pensamentos de quem já não está fisicamente presente!...  
Esta é uma história comum e como a maioria das coisas comuns revela valores que normalmente ignoramos diante da complexidade de tarefas e rotinas às quais nos dedicamos e que consideramos de extrema prioridade. Sabemos da imprevisibilidade da existência, tememos muitas vezes o momento de partir ou ver partir... mas ignoramos o momento presente e suas possibilidades... deixamos pra depois o abraço, a conversa, o encontro... porque "é preciso" priorizar o que representa nossas "máximas" necessidades!... Só esquecemos que a maioria destas necessidades máximas e tão urgentes tornam-se em sua maioria detalhes sem importância, diante da perda de um ente querido. A maioria destas necessidades não são capazes de nos consolar ou suprir a falta que passamos a sentir... Mas a vida continua e acabamos "devolvidos" a nossa rotina. Durante um determinado tempo nos perguntaremos o que realmente é importante!? Mas em pouco tempo somos envolvidos pelas velhas ou novas prioridades até que um fato semelhante nos chame novamente a repensar valores... Claro que não podemos deixar de lutar por nossos sonhos, trabalhar, estudar e dedicar nossos esforços na construção de nossos ideais. Claro que isto demanda tempo, entrega, escolhas, organização, opções nem sempre cômodas e condizentes com nossa vontade momentânea. Mas deveria ser claro também que a felicidade implica em aprender a conciliar e equilibrar prioridades.
Vivemos  planejando como se o nosso tempo fosse infinito ou passível de previsibilidade, quando na verdade, não sabemos! E esta deveria ser a premissa básica de nossas relações
Partilhar  sorrisos, atenção e carinho com quem amamos não é desperdício de tempo, nem tão pouco pode ser adiado constantemente, como se o amanhã fosse consequência certa da existência. Da mesma forma, nada nesta vida deveria ser motivo para nos obrigar a conviver com aqueles que nos fazem mal,  que não nos acrescentam em termos de uma convivência verdadeira, leal, pautada em confiança, respeito e alegria. Mas como tudo é aprendizado, que possamos ser equilibrados, priorizar os laços verdadeiros e não permitir que as pessoas que amamos saiam de nossas vidas, deixando um rastro de vazio e a sensação que não tivemos tempo de compartilhar todo amor que nos cabe.