quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Porquê Camuflar as Nossas Convicções?


"Desde que nos propomos emitir uma verdade de acordo com as nossas convicções damos logo a impressão de fazer retórica. Que espécie de prestidigitação vem a ser essa? Como é que nos nossos dias não poucas verdades, proferidas que sejam, por vezes, mesmo em tom patético, imediatamente ganham aspectos retóricos? Porquê é que na nossa época cada vez há mais necessidade, quando pretendemos dizer a verdade, de recorrer ao humor, à ironia, à sátira? Porquê adoçar a verdade como se se tratasse de uma pílula amarga? Porquê envolver as nossas convicções num misto de altiva indiferença, digamos, de desprezo para com o público? Numa palavra, porquê certo ar de pícara condescendência? Em nossa opinião, o homem de bem não tem de envergonhar-se das suas convicções, ainda mesmo que estas transpareçam sob a forma retórica, sobretudo se está certo delas". 
(Fiódor Dostoiévski, in "Diário de um Escritor")

Para mim Dostoiévski é um ícone da literatura. Sua capacidade vai muito além da criação de um enredo, ele realmente consegue nos invadir a alma e nos colocar no tempo da sua história, não apenas como leitor, mas como personagem. Isto porque domina a arte de descrever as emoções humanas e talvez até transcendê-las, por vezes.
Diário de um Escritor data de 1873 e não me parece nem um pouco desconforme com a nossa realidade humana atual. Ao contrário, vivemos um tempo onde convicções estão em baixa em uma inversão de valores assustadora. Vejo por aí, pelas ruas e redes sociais o quanto muitos se tornaram limitados e enfadonhos em defender aquilo que na verdade não faz sentindo, não agrega, pior, realça e estimula a decadência desta humanidade já tão desprovida de ideais e méritos!
Pensemos, quantos de nós nos vemos vítimas de regras sociais que promovem egos e inibem a inteligência!?... Não vamos muito longe, abordemos a questão do preconceito.... o que de fato é preconceito? o que difere um ataque à uma escolha ou condição pessoal de uma opinião formada? Não seria também preconceituosa a atitude de grupos que tentam impôr sua forma de viver e compreender o mundo!? Onde começa e onde termina o direito de pensar e expressar nossas convicções? Pessoas que assumem uma posição, que realmente acreditam no que são e no que tem a dar como contribuição à sociedade, não saem por aí fazendo alarde de si mesmas. Expressam ideias e atitudes. O fundamento do que defendem é transparente através do exemplo cotidiano. Sim, exemplo cotidiano! O mundo mudou (diferente de dizer que evoluiu dentro do contexto abordado). Hoje convivemos com as diversas "tribos" (evolução aqui?), tantas novas tendências, descobertas tecnológicas e científicas e por aí vai.... mas estamos longe de aprender a conviver de forma à respeitar e contribuir, de fato, com uma condição humana essencial. Somos diferentes, Graças à Deus e na diferença está a solução de nossos problemas :)
O igual é igual, ponto. O diferente nos faz pensar, rever nossas conclusões; isto se assumimos, no minimo, uma postura desprovida de "donos" da verdade, até porque ninguém é! A verdade incontestável de hoje pode virar um mito amanhã e assim vai. O que não muda, não pode mudar, são nossos valores morais que permeiam e moldam a dignidade. E o mundo precisa muito rever isto, não é mesmo? Portanto Fiódor Dostoiévski nos convida novamente à uma imersão dentro de nós mesmos e nos aponta que convicções são essenciais e é um direito inalienável e pessoal. Não tem sentido vivermos capturados pela dita "modernidade" que a mídia faz questão de propagar, sem de fato comprometer-se de forma neutra, investigativa, preocupando-se em informar. Porque, infelizmente, a nossa mídia é deficiente demais, valoriza quantidade e não qualidade, em outras palavras, "tem que dar ibope"! Ibope pra quem ou para que? E assim nos vemos cada vez mais pressionados e movidos por interesses que nem são nossos, mas passam a ser... Vejo tantas causas inúteis defendidas por aí e o essencial perdido e relegado à poucas discussões não divulgadas, não aplaudidas, não proclamadas e pior... ignoradas, até por aqueles que de fato poderiam ajudar à construir um mundo melhor. E um mundo melhor jamais será construído sobre os escombros da queda de valores morais, de respeito e dignidade humanos! Portanto afirmo que sim, procuro respeitar a diversidade, mas mantenho minhas convicções pessoais, sem nenhum desejo de impô-las, assim como não aceito nenhum tipo de imposição, seja de que tipo for. Uma última reflexão para este texto, cabe aqui colocar uma frase que ouvi outro dia:"Só acho que as coisas, como são hoje, funcionam sim, mas do mesmo jeito que um câncer funciona muito bem. E vão de vento em popa."
Pensemos...

Em tempo: a última frase em grifo eu retirei de uma postagem feita na página Pausa do Café, criada pelo professor Gelson Benatti no Facebook. Super recomendo, segue link:
 https://www.facebook.com/groups/pausadocafe/?fref=ts

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